[ {"source_document": "", "creation_year": 1739, "culture": " Portuguese\n", "content": "Produced by Mike Silva\n Que hum amigo escreveo a outro, estando convalescendo,\n depois de huma enfermidade.\n Na Offic. de ANTONIO VICENTE DA SILVA.\n _Com todas as licen\u00e7as necessarias._\nMeu Amigo, e Senhor. Gra\u00e7as a Deos, que depois de huma enfermidade\ndilatada me acho restituido a estado de poder escrever a V. m. e na\u00f5 foi\npequeno milagre escapar da cura, em que tive mayor perigo, do que\naquelle, que me causava a molestia; pois por muito pouco que a natureza\nse descuidasse em me soccorrer, sem duvida entre a m\u00e1 applica\u00e7a\u00f5 dos\nremedios perderia irremediavelmente a vida. Agora que me acho livre do\nsusto nesta convalescen\u00e7a, ja que na\u00f5 posso fazer outra cousa, quero-me\ndivertir ao menos em dizer a V. m. o de que escapei pelos enganos da\nMedicina, e pela ignorancia de alguns de seus professores, que\nordinariamente se reputa por hum grande bem, e excellente soccorro para\na conserva\u00e7a\u00f5 da vida; mas eu entendo que neste caso podemos exclamar\ncom Seneca: _Oh fallax bonum, quantum malorum fronte, qu\u00e0m blanda\ntegis._ E eu na\u00f5 sei se conseguiriamos huma melhor utilidade sem o\nsuffragio deste chamado bem, do que com a introduc\u00e7a\u00f5 deste honesto, e\nlouvavel engano.\nTodos sabemos a correspondencia, que o homem, mundo abbreviado, tem com\na grande extensa\u00f5 do mundo, porque assim como este subsiste pela unia\u00f5\ndos quatro elementos, assim tambem o corpo se conserva pela mistura dos\nseus quatro humores; e pervertido o bom equilibrio de algum delles, se\nconhece logo aquella ruina, que fica debaixo da sua jurisdic\u00e7a\u00f5. Como\nna\u00f5 podemos conhecer estas causas occultas, recorremos ao soccorro dos\nMedicos, relatando-lhes os effeitos, que sentimos, para que elles,\nsegundo os preceitos da sua arte, cheguem ao verdadeiro conhecimento das\ncausas, e applicando-nos o remedio, restitua\u00f5 a natureza ao seu\nverdadeiro tom. Este he o fim da Medicina, e o para que buscamos os\nseus professores. Mas _hoc opus, hic labor est_.\nNinguem p\u00f3de duvidar ser a Medicina huma arte Divina, e para credito da\nsua excellencia basta ser exercitada pelo mesmo Christo, de que o novo\nTestamento, nos offerece repetidos exemplos; e Deos pela boca do\nEspirito Santo nos manda honrar muito os bons, e verdadeiros professores\ndesta sciencia: como tal tem seus principios certos para dirigir os seus\nprofessores, de sorte que a exercitem em utilidade dos homens, e em\nbebeficio das Republicas; por\u00e9m os que se na\u00f5 applica\u00f5 como devem no\nconhecimento desses principios, destroem sem duvida a excellencia da\narte, e invertem o fim, para que ella se introduzio, de sorte que a\nenchem de imposturas, e defeitos; e enganando o mundo com a sua pessima\npratica, fazem conceber a huma arte ta\u00f5 nobre, e ta\u00f5 necessaria hum odio\nentranhavel, hum susto continuo, e hum desprezo universal, de que se\nsegue conceberem todos, que sem duvida anda\u00f5 enganados, e nunca\ndesenganados destes falsos Medicos. Por este receyo entendo que na\u00f5\ndeixar\u00e1 de ser mil vezes melhor na presen\u00e7a de alguma queixa viver antes\ncom ella, do que entregar-se nas m\u00e3os de qualquer Medico, pela\ndifficuldade, que temos em distinguir o m\u00e1o do bom; porque ser\u00e1 muito\nmelhor viver mais tempo, ainda que sujeito ao discommodo de huma saudade\narruinada, do que abbrevir a vida com o pretexto de recuperar a saude.\nA enfermidade presente me acabou de desenganar, porque por muitos\nprincipios comprendi o pouco conhecimento, que alguns professores tem\ndos principios das queixas, e o muito, que confundem os effeitos com as\ncausas; e o que he mais sensivel, o grande descuido, que tem em\nexercitar o officio de coadjutores da natureza, porque principiando a\nmolestia por huma indigesta\u00f5, quizera\u00f5 tirar-me pelas veyas o mal, que\ntinha no estomago; e concebendo a febre por causa, sendo na verdade\neffeito, arrastr\u00e0ra\u00f5 para a massa do sangue o que estava nas primeiras\nvias, e sem outra alguma evacua\u00e7a\u00f5 me puzera\u00f5 a morrer, quando com pouco\ntrabalho me podia\u00f5 ter curado; mas por na\u00f5 passarem da tarifa, para cuja\nobservancia me parace que tem dado entre si juramento, sobre indigesta\u00f5\nviera\u00f5 leites, viera\u00f5 tizanas, viera\u00f5 frangos, e o que veyo de mais\nespecial fora\u00f5 humas pitadas de nitro, e com a simples repeti\u00e7a\u00f5 destas\ndrogas pertendia\u00f5 livrar-me das garras da morte.\nEste facto proprio me fez lembrar huma especie, de que sem duvida na\u00f5\npassa\u00f5 as enfermidades de tres classes, ou sa\u00f5 de sua natureza curaveis,\nou incuraveis, ou indifferentes. Nas curaveis p\u00f3de a natureza supprir\ntodos os erros da arte: nas incuraveis nem toda a arte p\u00f3de emendar a\nruina da natureza, e por for\u00e7a lhe hade ceder: nas indifferentes he que\nhe todo o trabalho, todo o susto, e todo o perigo.\nOra diga-me V. m. Quem com huma doen\u00e7a indifferente se ha de metter sem\nsusto nas ma\u00f5s de hum Medico, que poder\u00e1 na\u00f5 conhecer os principios da\nsua queixa, e suppondo que he huma, curalla como outra, com o que p\u00f3de\nvir a ser maligna huma leve fermenta\u00e7a\u00f5 febril, com que a natureza se\npertende muitas vezes aliviar? Quem na\u00f5 ter\u00e1 susto de ver \u00e1 sua\ncabeceira hum homem, de quem, como de causa segunda, est\u00e1 dependente a\nsua vida? Quem deixar\u00e1 finalmente de estar a cada hora esperando que lhe\ncortem os fios da vida simplesmente com dous rasgos de huma penna, ou\ncom hum, ou dous leves borr\u00f5es de tinta? O certo he, que tudo isto se\np\u00f3de temer, vendo-se a pouca diligencia, que a mayor parte dos Medicos\nfazem para curar bem, e a negligencia, que se pratica, para que s\u00f3mente\ncurem os bons Medicos. Bem conhe\u00e7o que dos homens he o errar, e que\ns\u00f3 as intelligencias esta\u00f5 izentas deste defeito; mas como a Medicina\ntem preceitos certos, como he possivel que deixem de errar todos\naquelles, que ignora\u00f5 os principios, ou se os sabem, na\u00f5 passa\u00f5 de huma\npura materialidade, sem que o discurso se adiante a fazer com que elles\ntenha\u00f5 todo aquelle bom exito, a que se termina\u00f5? Eu assento em que\ndeixada a certeza dos principios, e certas leis, a que est\u00e1 sujeita esta\nsciencia, toda a Medicina se funda em hum bom discurso, e raciocinio; e\nquem melhor o fizer, esse poderemos ter por melhor Medico: sendo certo\nque em huma casa \u00e1s escuras tanto v\u00ea quem tem dous olhos, como quem na\u00f5\ntem nenhum, e que mais acertar\u00e1 quem melhor tino tiver. Mas como p\u00f3de\natinar quem na\u00f5 tem bom tacto? E como acertar\u00e1 \u00e1s apalpadellas quem na\u00f5\ntiver hum bom discurso?\nA este respeito quero referir a V. m. hum successo moderno, para\nconfirmar que antes me hey de curar com hum Cirurgia\u00f5 de experiencia, a\nquem assista hum raciocinio claro, do que com hum Medico m\u00e1o, que na\u00f5\ntenha outro discurso mais, que para entender muito ao p\u00e9 da letra huma\ninfiada de afforismos de Hypocrates, e senten\u00e7as de outros membros\ngraves, restauradores da antiga Medicina, a quem como oraculos recorrem,\ne de que tem feito na memoria hum bom deposito para comprarem a\ncredulidade do vulgo ignorante. Ainda na\u00f5 ha quinze dias, que achando-se\ncerto Cirurgia\u00f5 dos de melhor credito na quinta de hum Fidalgo nas\nvizinhan\u00e7as de Lisboa, se ouv\u00edra\u00f5 de repente humas vozes chamar por\nConfissa\u00f5. Acud\u00edra\u00f5 a estes clamores varias pessoas, e logo hum\nSacerdote douto, levado do pio zelo, inseparavel do seu instituto,\nacudio com o Sacramento da Penitencia a hum pobre homem, que por elle\nestava suspirando. A este tempo acudio tambem o bom Cirurgia\u00f5, e\nachando hum pulso alguma cousa opprimido, e a vista indicando huma\nespecie de frenezim, para cuja suspeita concorria tambem a incerteza das\npalavras, se lembrou de que os preceitos da arte determinava\u00f5 neste caso\na sangria, e outros remedios violentos, e quasi se vio convencido a\nfazellos; mas discorrendo sobre os mesmos preceitos, lembrando-lhe\nalgumas das suas limita\u00e7oens, suspendeo este meyo, e recorreo a outro,\nformando juizo de que pelas informa\u00e7oens, que tomou do estado, em que\nantecedentemente se achava o enfermo, na\u00f5 passava aquelle accidente de\npoder ser huma mania accidental, que com pouco trabalho, e prejuizo do\nenfermo teria facil cura. Assentando nisto, pedio huma palmatoria, e\nconvertendo as sangrias, e purgas em duas duzias de palmatoadas, com\npromessa de lhe aggravar as penas, na manh\u00e3a seguinte o achou bom, e\nlivre de cuidado; e se na\u00f5 fora doerem-lhe as m\u00e3os, trabalharia logo no\nseu officio, que era de alfayate. Seguro a V. m. que muitos dos que\nvissem curar huma oppressa\u00f5 de pulso, acompanhada de hum icterismo \u00e1\ncabe\u00e7a, com o pouco custo de duas duzias de palmatoadas, teria\u00f5, que rir\npor muito tempo, e faria\u00f5 pessimo conceito do operante; mas quem\nconsiderar que a for\u00e7a do raciocinio, e bom discurso o guiou para este\nremedio, conhecer\u00e1 que na Medicina mais, e melhor acerta quem melhor\ndiscorre, porque neste caso julgou serem aquellas vozes effeito de huma\nmania accidental, que muitas vezes com remedios exasperantes, e temores\npropostos se dissipa\u00f5 as nevoas, que occasiona a for\u00e7a, e violencia de\nhuma hypocondria exaltada.\nFinalmente, para que V. m. acabe de conhecer o perigoso estado, em que\nse acha a nossa vida, pela difficuldade, que temos em saber quaes sa\u00f5 os\nMedicos bons, para recorrermos a elles em beneficio da conserva\u00e7a\u00f5 da\nsaude, e os m\u00e1os para evitarmos cahir nas suas ma\u00f5s, bastar\u00e1 contar\ntambem a V. m. o que se passou na\u00f5 ha muito tempo com hum homem servente\nde certa Communidade, o qual adoecendo gravemente, se lhe chamou hum\ndestes Medicos embandeirado na classe dos bons. Principiou logo a sua\ncura na f\u00f3rma do estylo, de cujos remedios na\u00f5 experimentou o enfermo\nalivio algum. Aggravou-se a doen\u00e7a de sorte, que o mandou sacramentar\npor Viatico. Lembrou-lhe por ultimo dar-lhe as sarjas, por na\u00f5 faltar ao\ncostume, que he applicar-se este remedio, como a Santa-Un\u00e7a\u00f5 no extremo\nda vida, quando de ordinario na\u00f5 aproveita aos enfermos; mas o doente,\nque ouvio quasi proferida a senten\u00e7a de morte, appellou do Medico para o\nmesmo Medico, dizendo que tinha que lhe communicar em segredo, antes que\nnelle se executasse o ultimo supplicio. Ouvio com bom animo o Doutor o\nsegredo, e este consistio em lhe dizer o r\u00e9o, que elle por occasia\u00f5 do\nTerremoto fugira para a sua terra, mas a tempo que ja estava prevenida a\nrecondu\u00e7a\u00f5 dos desertores; que sendo prezo por hum Ajudante, tivera\nmeyos de lhe escapar, e se recolhera ao sitio, em que se achava; e que\nvindo casualmente a elle o mesmo Ajudante, o conhec\u00eara, e o amea\u00e7\u00e1ra com\na proxima mon\u00e7a\u00f5 da India, e que elle para escapar deste desterro se\nfingira doente, e mostr\u00e1ra aggravar-se-lhe a enfermidade, e assim que\nestava com grande escrupulo na sua consciencia em se ter sacramentado\npor Viatico, na\u00f5 tendo na verdade cousa alguma. Ficou suspenso o Medico,\ne dando mais credito \u00e1s palavras do enfermo do que ao pulso, a huma\ninforma\u00e7a\u00f5 delirante, que \u00e1s vozes da natureza, entrou a contristar-se\nde ter concorrido para aquelle escrupulo e escrupulizando muito mais de\nter curado hum homem de maligna, sem ter na realidade cousa alguma.\nVendo a enfermeira que lhe suspendia as sarjas, perguntou o motivo;\nao que o Medico respondeo, que o homem era hum embusteiro, e que na\u00f5\ntinha cousa alguma, referindo-lhe o successo, e que assim s\u00f3 cuidava em\nlhe remediar o damno, que lhe tinha feito por conta do seu embuste. A\nesta confissa\u00f5 da sua ignorancia, que cuido seria sincera, acudio a\nenfermeira, dizendo, que se admirava muito de ver que depois de cahir na\nprimeira cahisse tambem na segunda; porque tanto se tinha enganado,\nquando principiou a curar, visto dar tanto credito \u00e1s palavras do\nenfermo, como agora, quando o doente o engan\u00e1ra no que lhe dissera, pois\nelle nunca sahio daquelle sitio, nem fugira, nem tal Ajudante o\namea\u00e7\u00e1ra, porque tudo era\u00f5 effeitos de hum grande delirio, em que o\ntinha posto a maligna, e que logo logo o sarjasse. Conveyo com a\ninstancia, applicou-se o remedio, e se acha inteiramente sa\u00f5 como hum\npero. Agora veja V. m. a quem aquelle homem deveo a sua vida, se foi\nmais ao conhecimento de huma mulher, que lhe assistia, do que a num\nMedico, que lhe tomava o pulso? e o juizo, que este faria no principio,\nno estado, e no progresso da enfermidade, quando julgando por erro os\nprimeiros acertos, lhe pezava de ter acertado, s\u00f3 porque o enfermo lhe\ndizia, que na\u00f5 tinha cousa alguma; e se na verdade assim fosse,\nachava-se o miseravel homem precisado a curar-se de huma enfermidade,\nque lhe introduzio a impericia de hum Medico.\nIsto he impossivel deixar de succeder todos os dias, porque a respeito\ndos Medicos, assim como a respeito do mais, suppre de ordinario o favor,\ne o patrocinio \u00e1 falta de sufficiencia, pois em havendo qualquer empenho\ntodos cura\u00f5. E se na\u00f5, lembre-se V. m. daquelle nosso amigo, e\ncompanheiro, que depois de na\u00f5 poder capacitar-se de hum unico ponto da\npostilla do nosso Mestre o Senhor Manoel Tavares Coutinho, Lente de\nVespera de Canones, foi para o Brazil, onde sem mais estudos quiz\nexercitar o officio de Advogado; e adquirindo muito m\u00e1 fama por esta\noccupa\u00e7a\u00f5, voltou para a Corte, sem mais cabedal que aquelle, com que\nfoi. Passados alguns annos, nos disse no adro da Trindade, que tornava a\nir para o mesmo Estado, ainda que com diverso emprego, em que esperava\nadquirir melhor fortuna, pois teve quem o patrocinou para levar o cargo\nde Fysico M\u00f3r das Minas Geraes; e perguntando-lhe V. m. que tinha mais\nconfian\u00e7a com elle, como havia de ser isso de curar? elle lhe respondeo,\nque levava bom provimento de receitas para malignas, para cezoens, para\nhydropezias, e para todo o genero de enfermidades, que lhe adquirira\u00f5\nvarios amigos, e que na occurrencia de alguma enfermidade pegava na\nprimeira, e se esta falhasse, applicava a segunda, assim a terceira, at\u00e9\nacertar com alguma. Elle foi, e alguns annos depois, que ainda na\u00f5 ha\nquatro, ou cinco, o encontrei em certo sitio curando, supponho como nas\nminas, com o partido de Medico de certa Communidade Religiosa, e do\nmesmo lugar, em que se achava. Quando vi semelhante caso, me lembrou\nlogo o que succedeo entre hum Fidalgo, e o seu cozinheiro. Era o Fidalgo\nV\u00e9dor da Fasenda, a quem tocava a reparti\u00e7a\u00f5 da Casa da India. Chegou-se\na mon\u00e7a\u00f5, e o cozinheiro em premio do bom servi\u00e7o, que tinha feito ao\nFidalgo no decurso de muitos annos, lhe pedio a pra\u00e7a de Piloto da n\u00e1o\nde viagem. Admirou-se o Fidalgo da peti\u00e7a\u00f5, e lhe disse como era\npossivel que elle soubesse marcar huma n\u00e1o em huma viagem ta\u00f5 dilatada,\nquando nunca tinha sahido de sua cozinha? Ao que constantemente\nrespondeo o cozinheiro: _Senhor, isso he historia, nomee-me V. Senhoria\npara piloto, que o mais fica por conta da fortuna, porque as n\u00e1os, que\nva\u00f5 para a India, Deos as leva, e Deos as traz, que o mais de pouco\nimporta._ Com que, meu amigo, applico el cuento, com semelhantes\nMedicos tudo fica por conta de Deos, e se escapamos das suas ma\u00f5s, he\ngrande milagre, e se algum sabe mais alguma cousa, he pelo estudo, que\nfaz nos vivos, a quem tira a vida, e nenhum pelos mortos, que he onde\npoderia\u00f5 achar methodo, e doutrinas para curar com menos detrimento dos\nmiseraveis enfermos.\nMas que ha de ser, se alguns, a quem assiste mais huma pouca de\ncuriosidade, quizessem fazer mayor estudo, nem para isso tem tempo, e\napenas p\u00f3dem, como os Siganos, tomar de c\u00f3r aquella certa giria para\nfazerem as suas curas, segundo o systema presente, para o que pouco\ntrabalho basta, e sobeja. He ta\u00f5 precioso o tempo, que para os\nprofessores desta arte todo se converte em dinheiro, e assim mais\nencarregados do que carregados de visitas, passa\u00f5 o dia inteiro em\ncorrer as ruas, subir, e descer escadas, praticar com os Cirurgioens, e\nBoticarios, que sa\u00f5 as adelas do seu conceito; e chegando a casa, ou ao\nmeyo dia, ou \u00e1 noite, como vem fatigados, na\u00f5 olha\u00f5 para livro, nem lhes\nlembra\u00f5 os doentes; porque, como sa\u00f5 muitos, por huns esquecem os\noutros; e como as visitas esta\u00f5 feitas em numero, est\u00e1 vencida a paga,\npois tirando o tempo para estudar, do numero dos enfermos vem a perder o\nque com elle poderia\u00f5 adquirir, e j\u00e1 hoje na\u00f5 est\u00e1 o tempo para ninguem\nse perder. Bem reconheceo esta falta de tempo certa pessoa grave, quando\nencontrando-se na rua dos Douradores, que antigamente era muito\nestreita, com tres Medicos, que estava\u00f5 conversando, gritou aos criados,\nque parassem, porque na\u00f5 era justo pertubar os Senhores Doutores\nnaquelle pouco tempo de estudo, que talvez estivessem conferindo sobre\nalguma enfermidade. Meu amigo, sem estudo ninguem sabe, e saber sem\nestudar s\u00f3 o conseguio Saloma\u00f5; mas a sua incomprehensivel sabedoria\nse lhe communicou dormindo, e foy o unico, a quem Deos fez essa merc\u00ea,\npara que se conhecesse que dormindo, ou sem diligencia s\u00f3 por milagre se\np\u00f3de ser sabio. Quem estuda, muitas vezes sabe pouco, e ordinariamente\nconfessa\u00f5 os doutos, que a utilidade, que tira\u00f5 dos seus estudos, he\nconhecerem o pouco que sabem, e o muito que lhes falta por saber. E que\nfar\u00e1 quem na\u00f5 estuda cousa alguma? O certo he que o estudo ordinario\ndestes professores se termina ao methodo, que hum Medico, reputado por\ngrande, deo a outro, que o consultou, estando elle huma manh\u00e3a passeando\nnos claustros do Convento de S. Francisco da Cidade. Pedio o Medico\nmoderno ao antigo, que lhe d\u00e9sse huma norma, e direc\u00e7a\u00f5 para estudar, e\nsaber o que fosse necessario para adquirir tambem o conceito de bom\nMedico, como elle tinha na Corte. Respondeo-lhe o antigo: Senhor Doutor,\nassente em que para ser tal, qual V. m. deseja, basta que chegue a\nenterrar nestes claustros tantos miseraveis enfermos, quantos eu tenho\nmandado para elles, e para outros desta Cidade, e na\u00f5 se canse com mais\nestudo, porque o vulgo ignorante cr\u00ea como no Evangelho a maxima de que\nMedicos velhos, e Cirurgioes mo\u00e7os sa\u00f5 os melhores.\nNa\u00f5 deixo de reconhecer alguma raza\u00f5, em que se funde esta maxima, mas\nquando ella se estabeleceo foy naquelle tempo, em que se observava huma\nexperiencia continua unida a hum estudo continuado, e huma especula\u00e7a\u00f5\nexacta a huma pratica cheya de observa\u00e7\u00f5es; e como esta se na\u00f5 adquire,\nsena\u00f5 com o curso dos annos, he certo que o bom Medico, que for velho,\nsendo deste genero, ser\u00e1 o mais excellente. Mas que importar\u00e1 o numero\nde annos, se faltar o estudo, e a exac\u00e7a\u00f5 nas observa\u00e7\u00f5es da pratica?\nServe de tanto, como se vio praticado neste nosso Hospital de Lisboa com\nhum dos seus primeiros Medicos, o qual eu ainda conheci muito bem.\nFoi este acompanhado dos seus praticantes, e enfermeiro fazer a visita\nde manh\u00e3a aos enfermos, e discorrendo pelas camas, foy ordenando o que\nlhe pareceo. Chegou a huma, tomou o pulso ao vulto, que estava nella, e\nvoltou para o enfermeiro, dizendo: _A este mais duas sangrias._\nReplicou-lhe o enfermeiro: _Senhor Doutor, este morreo esta noite._ Fez\nta\u00f5 pouca impressa\u00f5 no senhor Medico esta modesta reprehensa\u00f5, que com o\nmesmo socego de animo, com que determinou as sangrias a hum cadaver, com\no mesmo respondeo: _Pois enterrem-no, que he o que se segue. Vamos\nadiante._ Deos me livre de que hum destes me tome o pulso; porque ainda\nestando eu com boa saude, vendo que as arterias tem pulsa\u00e7a\u00f5, logo me\nmanda sarjar, quando elle achou a hum defunto pulso para lhe mandar\ncontinuar com as sangrias. De que se manifesta, que os annos sem estudo\nsim fazem hum homem velho, mas na\u00f5 fara\u00f5 hum homem sabio. Na\u00f5 faltou\nquem discretamente atribuisse a morte repentina de hum amigo seu a ter\nvisto em sonhos certo Medico m\u00e1o, que havia no seu tempo, e bastou ver\nem sonhos aquelle objecto para perder a vida. Se s\u00f3 a imagem na fantezia\nproduzio hum tal effeito, como podemos esperar melhores successos,\nandando a nossa vida manipulada pela realidade do figurado? Se hum\ndestes s\u00f3 visto em sonhos matou hum homem, como na\u00f5 fara\u00f5 peyor estrago\ntantos daquelle mesmo lote, que vivem realmente entre n\u00f3s, e de que nos\nvemos cercados, como de inimigos da nossa saude? O certo he, que devemos\ndar muitas gra\u00e7as a Deos de estar vivos, achando-nos no meyo de tantos\ncoadjutores da morte, que para serem mais expeditos, quasi todos anda\u00f5 a\ncavallo, conhecendo muito bem que sempre a Cavallaria fez mayor estrago,\ndo que a Infantaria, e tambem para imitarem em tudo a figura, que\nsubstituem, porque assim a vio S. Joa\u00f5: _Et in quarto equo palidi ibat\nmors._ Com o que me parece que na\u00f5 podemos achar seguro lugar, onde nos\nna\u00f5 alcance a influencia deste contagio, e ainda nos lugares mais sadios\npodemos experimentar este damno.\nHe muito para ver, e muito mais para recear o modo como hum destes\nsentencea camerariamente a nossa vida, sem haver outro delicto mais, que\nentregarmo-nos sem reflexao nas suas ma\u00f5s. Para hum r\u00e9o, que commetteo\ntalvez hum delicto grave, na\u00f5 basta a senten\u00e7a de hum Juiz inferior,\nporque nem elle tem authoridade para condemnar, e s\u00f3 remette as culpas\nao Tribunal superior. Nomea\u00f5-se Ministros, faz o Relator o extracto do\nprocesso, vota\u00f5 cinco, sette, ou mais Ministros, segundo pede a\ngravidade da causa, ou a igualdade dos votos, e quando se profere a\nsenten\u00e7a de morte he depois de se vencer pelo mayor numero. E sendo para\nhum delinquente necessaria tanta circumspec\u00e7a\u00f5, para se tirar a vida a\nhum homem, que est\u00e1 innocente, basta o juizo inferior de hum destes\nMedicos, que sentenceando de morte com effusa\u00f5 de sangue, acha logo\nMinistro de justi\u00e7a prompto com o ferro, e com o fogo para summariamente\nremetter o enfermo para o outro mundo; e muitas vezes nem tanto he\nnecessario, porque basta o Medico s\u00f3 com accrescentar na receita hum\nponto com a penna, assinando quatro em lugar de tres, e com isto fica\ntudo concluido. Eu bem sei que aquelle, que quer parecer mais\ncircumspecto, tambem convoca a sua especie de rela\u00e7a\u00f5, a que chama\u00f5\njunta, para que no caso de algum m\u00e1o successo, ter escudo para conservar\no seu conceito; por\u00e9m isto para mim he cousa de rizo, pois o que eu\ntenho muitas vezes observado he conversar nestas juntas sobre a bondade\ndas suas mulas, do bom servi\u00e7o de seus criados, e com isto mistura\u00f5\nalgumas leves reflexoens do estado da doen\u00e7a, e no fim remata\u00f5 a\nConferencia com approvarem tudo o que o senhor Doutor assistente tem\ndeterminado, e quando muito, para mostrar que de alguma Cousa servio\nesta despeza, manda\u00f5 ajuntar dous gr\u00e3os de sevada da terra, ou na agoa\nde escorcioneira, ou em alguma tizana, e va\u00f5 saffando com a esm\u00f3la, e\nfazendo rancho, constituem entre si huma especie de sociedade, ajustando\nchamarem para as juntas huns aos outros, e assim va\u00f5 vivendo muito bem,\nainda que os enfermos va\u00f5 passando muito mal. O certo he, meu amigo, que\npelo muito que tenho visto a este respeito, assento que se as potencias\nbeligerantes pudessem introduzir nos exercitos oppostos hum pequeno\npelota\u00f5 de Medicos deste genero, (salvando sempre o bom conceito, que se\ndeve fazer dos bons) conseguiria\u00f5 as suas batalhas sem despeza de\npolvora, e bala, poupando os soldos excessivos dos Generaes, e mais\ndespezas, que traz comsigo a guerra, porque elles sem mais armas que hum\ntinteiro, e hum pouco de papel para fazerem os seus recipes,\nacompanhados dos seus subalternos, que sa\u00f5 os Cirirgi\u00f5es, armados com os\nseus estojos, e patronas com quatro lancetas, e huns poucos de ferros\nferrugentos, e os Boticarios com o seu livro do _quid pro quo_ em\nbandoleira, faria\u00f5 sem duvida em oito dias mais destro\u00e7o, do que o\nexercito poderia experimentar em seis mezes de campanha.\nFinalmente, por nao cansar mais a V. m. e eu estar tambem j\u00e1 cansado de\nescrever, na\u00f5 digo o muito, que me occorre a este respeito, e s\u00f3 pe\u00e7o a\nV. m. que tenha muito cuidado em conservar sem desordens a vida, para\nlograr hum estado de perfeita saude, e na\u00f5 chegar a ter necessidade de\ncahir no erro commum de chamar Medico, que na\u00f5 seja Medico, que lha\ndestrua de todo; e esta diligencia de chamar Medico bastar\u00e1 que V. m. a\nreserve para a ultima enfermidade, para mostrar que na\u00f5 deixa de morrer\n\u00e0 moda; ou tambem, quando por muito velho, e achacado se enfastiar de\nviver, quizer livrar-se desse embara\u00e7o por meyos competentes, que fique\nsalva a sua consciencia, porque elles tera\u00f5 todo o cuidado de lhe dar a\nmorte embrulhada em alguma emulsa\u00f5, ou dentro de hum frango,\nlembrando-se que obra\u00f5 nisto huma especie de caridade, verificando que a\nrespeito de huma vida cheya de padecimentos na\u00f5 he pena a morte, mas sim\no fim, e complemento de todas as penas, como escreveo hum discreto:\n_Mors non poena, sed ultima poenarum est._ Mas se por acaso, ou\nfatalidade lhe succeder o contrario, que antes disto lhe seja preciso\nrecorrer a elles pelo costume, encolha os hombros, e console-se com\nOuvidio, dizendo: _Me quoque fata ligant._ Ainda que lhe recommendo\nmuito, e me cuide em fugir, quanto lhe for possivel, destes tres\ninimigos do corpo, assim como Christa\u00f5 deve fugir dos da alma, pois se\nos da alma, que sa\u00f5 mundo, diabo, e carne, a arruina\u00f5 por natureza,\nassim o Medico, Cirurgia\u00f5, e Boticario tem por officio destruir a saude,\ne arruinar o corpo. Eu terei grande gosto de saber que V. m. passa livre\nde necessitar valer-se de semelhantes inimigos, que eu, gra\u00e7as a Deos,\npor agora escapei por occulta providencia dos ordinarios effeitos das\nsuas obras, e fico muito prompto para me empregar no servi\u00e7o de V. m.\nque Deos guarde muitos annos. Lisboa, 20. de Abril de 1756.", "source_dataset": "gutenberg", "source_dataset_detailed": "gutenberg - Sustos da Vida nos Perigos da Cura\n"}, {"source_document": "", "creation_year": 1739, "culture": " Portuguese\n", "content": "Produced by Mike Silva\n SOBRE A CARTA CONTRA OS\n _Ha pouco impresa com o titulo de Sustos da Vida nos Perigos da Cura._\n que sobre ella lhe pedio o parecer.\n Na Officina de JOSEPH FILIPPE.\n _Com as licen\u00e7as necessarias._\nJUIZO\nVERDADEIRO\nSOBRE A CARTA CONTRA OS\nMEDICOS, CIRURGIOENS,\nE BOTICARIOS\nMeu amigo, e Senhor, satisfazendo \u00e1 sua recomenda\u00e7a\u00f5 de lhe enviar os\npapeis coriosos, que sahirem nesta Cidade mais bem compostos, e\nrecebidos; remetto a v. m. esse que a semana passada se publicou com o\ntitulo de Sustos da Vida nos Perigos da Cura, ta\u00f5 agradavel aos\ncuriosos, como aos medicos odiozo. E ainda que sei, que v. m. na\u00f5 he\nmuito inclinado a obras satyricas, com tudo me parece, lhe na\u00f5\ndesagradar\u00e1, pelo que tem de discreta. Eu desejara que v. m. agora se\nachasse nesta Cidade para ouvir os pregoens dos cegos; pois na\u00f5\ncontentes com o primeiro titulo, para dar mais clara noticia da obra,\napregoa\u00f5; Carta contra os Medicos, Cirurgioens, e Boticarios (verdade\nhe, que na\u00f5 lhe levanta\u00f5 nenhum testemunho) e por fazer pirra\u00e7a aos\nmesmos servindose dos olhos dos mo\u00e7os, pois elles na\u00f5 p\u00f3dem ser\ntestemunhas de vista, \u00e1s portas de Boticarios, e na passagem dos\nMedicos, e Cirurgioens levant\u00e0\u00f5 com mais forte, e duplicada v\u00f3s o prega\u00f5\nda sua fazenda, alguns sugeitos tenho ouvido louvar muito este papel de\ndiscreto, e util \u00e1 republica, para que se desenganem com estes homicidas\ndisfar\u00e7ados. Eu por\u00e8m com juizo indiferente, espero pelo seu parecer,\npara que instruindo-me como costuma, eu possa julgar com acerto. Deos\nguarde a v. m. &c.\nRESPOSTA.\nMeu amigo, recebi a sua carta sempre estimavel, como sua e juntamente a\nobra, que me remette, e lhe recomendo agora me mande todos os papeis,\nque nesta Cidade se publicarem, porque quando nem todos sirva\u00f5 para\ninstru\u00e7a\u00f5, sera\u00f5 ao menos para divertimento do animo, e antidoto da\nociozidade. He j\u00e1 antigo em V. m. querer ouvir o meu parecer nestas\nmaterias literarias, em que eu na\u00f5 tenho voto, julgando que o excederei\nno bom gosto, quanto o excedo nos annos. Engana-se V. m. pois na sua\npouca idade tem aprendido mais estudo, do que eu vivendo. Se comtudo\ndezeja ouvir-me lhe digo: que fa\u00e7o muito diverso conceito desta obra, do\nque esses curiosos fazem. Eu confe\u00e7o, que quando acabei de a ler me\nlembrou _o novo cazo da consciencia_, excogitado pela jocosa agudeza do\nDoutissimo P. Feyj\u00f3: pelo qual fica\u00f5 obrigados restituir aos compradores\no dinheiro aquelles escriptores, que com titulos especiozos atrahem os\ncuriozos \u00e1 compra das obras inuteis. Nesta obriga\u00e7a\u00f5 julguei eu\nincurso ao autor da carta pois quem haver\u00e1, que ouvindo o pompozo titulo\nde Surtos da Vida nos Perigos da cura, na\u00f5 espere alguma obra erud\u00edta, e\ncomposi\u00e7a\u00f5 discreta? Pois gaste o seu dinheiro, compre, e leia; e nada\nmais achar\u00e1, que huma carta extensissima, ou satyra prolongada, com\nalguns contos de velhas, que por vulgares j\u00e1 na\u00f5 recrea\u00f5 ao leitor: tudo\nafim de injuriar os nobres professores da medicina. Por isso os c\u00e9gos,\nvendo isto, troc\u00e1ra\u00f5 o titulo proposto no frontespicio em o da _Carta\ncontra os Medicos, Cirurgioens, e Boticarios_. E se me consultassem,\nainda eu lhe ensinaria outro prega\u00f5 mais proprio, e mais bonito.\nOra j\u00e1 que falamos nisto; eu entendo, que na\u00f5 he precizo ver a obra mas\nbasta ouvir os cegos, para formar della o devido conceito. Tantas legoas\ndistante me parece, que me est\u00e1 horrorizando os ouvidos o escandaloso\necco deste prega\u00f5. E que homem de juizo haver\u00e1, a quem na\u00f5 escandalize\nesta voz pelas ruas publicas. No capitulo 38 de Ecclesiastico nos manda\nDeos honrar muito aos Medicos, dizendo; que a mesma ciencia, que\nprofessa\u00f5, os havia de exaltar, e fazer recomendaveis na presen\u00e7a dos\ngrandes. A ley os enobrece, Deos os recomenda, e quem dis\u00e9ra, que se\nhavia\u00f5 de ver publicamente offendidos, e pela gente vulgar com vozes\nultrajados! Tudo he effeito de huma paixa\u00f5 cega.\nNem diga algum ignorante apaixonado, que esta satyra s\u00f3 se dirigia a os\nMedicos imper\u00edtos, pois na\u00f5 deve a sua imperiencia ser cauza de huma\ndescomposi\u00e7a\u00f5 publica; a nimguem se deve afrontar: e desta irrisa\u00f5\nuniversal toma o povo occasia\u00f5 para escarnecer confusamente de todos\npois nem sabe, nem he posivel distinguir o bom do m\u00e1o. Porventura ser\u00e1\nmotivo bastante haver alguns m\u00e1os Theologos, Filosofos, ou Juristas para\nque se publique huma invectiva contra os Juristas, Theologos, e\nFilosofos; com que seja\u00f5 objecto da illuza\u00f5 do vulgo ignorante, e fabula\ndo povo, que por ter lido alguns erros dos professores destas ciencias,\npois ninguem delles se izenta (s\u00f3 se for o A. da carta) levante, que\ntodos sa\u00f5 huns nescios, que nada sabem, que na\u00f5 ha, que fiar nos seus\npareceres? Quem tal disera? Por isso eu digo, que esta obra, e seu\nprega\u00f5 s\u00f3 hade ser agradavel ao vulgo nescio, mas odioza aos homens de\njuizo.\nE entendo, que os offendidos, ainda que sentidos, e envergonhados,\ndesprezara\u00f5 nos gritos dos cegos os clamores do A. da carta como nos\nreprezenta Alciato a Lua continuando a sua carreira, e desprezando os\nlatidos daquelle ca\u00f5 importuno: que s\u00f3 o desprezo he o castigo de\nsimilhantes atrevimentos.\nPor\u00e9m, se s\u00f3 por f\u00f3ra he ta\u00f5 escadalozo este papel, por dentro ainda he\nmuito mais, a quem com atten\u00e7a\u00f5 o ler (se acazo alguem o pode ler com\natten\u00e7a\u00f5) pela impaciencia, que causa, na\u00f5 s\u00f3 a futilidade das suas\nrazoens, e liberdade da invectiva; mas tambem a prolixidade da sua\nlocu\u00e7a\u00f5. Eu certamente acho muito admiravel o engenho, com que encheo o\nseu A. mais de 2. folhas de papel, sem dizer huma raza\u00f5 cabal, e\nconvincente ao seu proposito. Louve muito emb\u00f3ra Seneca por arteficio\ngrande incluir o muito em pouco, seja arteficioso engenho rezumir em\nbreves periodos copiosas expre\u00e7oens; que eu na\u00f5 sei, se he mais\nencher o dilatado espa\u00e7o de 17 paginas sem alguma exper\u00e7a\u00f5 judicioza:\npois ainda que ali se acham muitas couzas notaveis, todos sa\u00f5 de m\u00e1 nota.\nLeia V. m. na primeira pagina, e logo achara falando da Medicina estas\npalavras Consegueriamos huma melhor utilidade sem o suffragio deste\nchamado bem, do que com a entruduc\u00e7a\u00f5 deste ingano! Pondere bem o seu\ndiscurso estas palavras, e ver\u00e1 que daqui se colhe, que na opiniao do A.\nda carta: a Medicia na\u00f5 deve ser chamada bem, antes mal; que, he inutil,\nantes pernicioza no mundo que; que melhor se passaria sem ella, e que\nfoi hum engano, que se introduzio na terra, e conseguintemente nos\nenganou, quem a introduzio. Elle bem claro o diz. Ora leia agora o cap.\nj\u00e1 alegado do Eccles. e achar\u00e1 hum panegyrico da Medicina, e huma\nrecomenda\u00e7a\u00f5 dos seus professores. Mas aqui ficara abismado, quem depois\nde ver que o A. chama introdu\u00e7a\u00f5 de hum engano a Medicina acha\u00f5 que o\nseu introductor foi Deos, em quem a F\u00e9 ensina na\u00f5 pode haver engano. Na\nopinia\u00f5 dos Hebreos o primeiro que exercitou esta ciencia, foi o Anjo S.\nRafael, quando ensinou a Tobias, que extrahise a o peixe o cora\u00e7a\u00f5,\nfel e figado para composi\u00e7a\u00f5 do remedio: mostrando-nos assim o mesmo\nDeos quanto tem de divina esta ciencia; pois do Ceo mandou quem a\nexercitasse.\nNa\u00f5 aparte V. m. a memoria das palavras deste A. disfar\u00e7ado, nem os\nolhos da Scriptura; e ver\u00e1 como se oppo\u00eam a este cap. Nelle nos manda\nDeos honrar ao Medico, e acrescenta que delle temos necessidade que se\nna\u00f5 aparte de n\u00f3s o Medico; porque as suas opera\u00e7oens sa\u00f5 ne\u00e7essarias;\nque Deos o introduzio, que lhe demos n\u00f3s logar; que o Altissimo creou os\nmedicamentos, e delle se derivou, e nasceo a Medicina, e que o vara\u00f5\nprudente, e homem de juizo a na\u00f5 hade aborrecer. Daqui vem a resposta\npara o que diz o A. que o mundo tem concebido hum odio entranhavel, e\ndesprezo universal a esta arte: pois s\u00f3 podera concebello algum louco.\nElle he que quer persuadir a todos, que o conceba\u00f5; pois lhe quer\nintroduzir, que he huma arte enganosa, hum louvavel engano, que melhor\nutilidade se consegueria sem o suffragio deste chamado bem; que ser\u00e1\nmil vezes melhor viver com alguma queixa, do que entregarse ao\nMedico, para que o cure; que ser\u00e1 muito melhor viver com o discomodo de\nhuma saude arruinada, e outras couzas deste genero, que tudo sa\u00f5\npalavras suas. Mas s\u00f3 algum rude, material se hade capacitar destas\nrazoens ditas, e na\u00f5 provadas; porque na\u00f5 repara, que o mesmo A. se est\u00e1\ncontradizendo a si. Em huma parte diz, que a Medicina he necessaria; em\noutra na\u00f5 s\u00f3 diz, que he escuzada, mas nociva: em huma parte attribue a\nMedicina os enganos; em outra affirma que tem preceitos certos. Eu\nsupponho, que elle cuida que enganaremse algumas vezes os Medicos he o\nmesmo, que ser a Medicina enganosa: pois isso sabe qualquer menino, que\nprincipia a estudar logica, que os erros dos professores na\u00f5 tira\u00f5 a\ninfalibilidade de qualquer ciencia. Mas na\u00f5 falemos em encoherencias;\nque disso est\u00e1 a carta chea.\nAt\u00e9 reprova a experiencia, que se tira do exercicio de curar sem\nadvertir, que a ella deve a Medicina a maior parte dos seos progressos.\nBem o veremos, se olharmos para os seos principios. Costumava\u00f5 os homens\nnos antigos seculos, quando sarava\u00f5 de alguma enfermidade escrever\nos remedios; com que se curara\u00f5; cuja noticia se guardava nos tempolos.\nExpunha\u00f5-se no Egypto, e Babylonia, e em outras na\u00e7oens os enfermos nas\npra\u00e7as publicas; e os passageiros, se algum remedio sabia\u00f5, lho\nensinava\u00f5: e se com elle sarava, se punha por escripto no templo\nguardado, como em archivo. Destas memorias se aproveitou Hipocrates,\nnatural da ilha Coo, que foi o primeiro, que coordinou os perceitos da\nMedecina, extrahindo do templo de Diana muitos destes escriptos, de que\nse utilizou, e juntando com a experimental a especulativa fez admiraveis\ncuras, que lhe immortalizara\u00f5 o nome. A experiencia, e observa\u00e7a\u00f5 ainda\ndos animaes, ensinou aos homens cousas utilissimas. Assim aprendera\u00f5 dos\nleoens a virtude da quina, da Andorinha a da celidonia, do Hippotanco a\nsangria, o cristal da ave Ibis, e outros muitos remedios de suma\nutilidade. A experiencia, dizem os Filosofos, gerou a arte; e Cornelio\nCelso affirma, que a Medicina empirica se deve juntar com a racional.\nJa me esquecia dar a raza\u00f5, porque asima eu dice, que este escriptor\nmascarado nada convencia com as suas razoens. Muitos se havia\u00f5 de\nadmirar, se tal me ouvisem; quando vem tantas paginas escriptas, tantos\ncazos, e tantas noticias para este fim amontoadas. Pois na minha opinia\u00f5\nisso he a couza mais estravagante, que se pode dar. Ninguem nega, que\nhaja hum, ou outro Medico indigno que hum, ou outro errasse a cura ao\ndoente, como elle prova com os seos contos de algebeira; por\u00e9m tambem se\ntem feito curas ta\u00f5 admiraveis, que parecem exceder a for\u00e7a do discurso\nhumano. Mas essas, ou se ignora\u00f5 pelo A. ou por malevolencia se\nocculta\u00f5. Elle quer, que o Medico seja pura intelligencia, que nunca\nerre: isso na\u00f5 pode ser; porque quando a enfermidade he mortal, ha de\nenganarse o Medico, ou na\u00f5 hade aproveitar a cura: elle mesmo o concede,\nsempre houve, e hade haver molestias incuraveis; j\u00e1 dice Ouvidio, que\nnem sempre estava na ma\u00f5 do Medico o remedio do enfermo; que muitas\nvezes vence o poder da doen\u00e7a as for\u00e7as da arte: mas he certo, que se\ntodos morrem por ley insespensavel da mortalidade, muitos conserva\u00f5 a\nvida, e restaura\u00f5 a saude por beneficio especial da Medicina. Frustra\u00f5-se\nnecessariamente as diligencias, nas doen\u00e7as incuraveis e se erra\u00f5\nmuitas vezes os Medicos nas curaveis, ou indifferentes, nem sempre he\nfacil o acerto em huma materia ta\u00f5 incerta, e ta\u00f5 escura. Por isso a\nantiguidade nos reprezentou a Medicina em figura de mulher idoza com hum\nborda\u00f5 nodoso em a ma\u00f5? significando na ancianidade a experiencia, que\npara ella se necessita, e no borda\u00f5 nodoso a difficuldade, que nella se\nexperimenta.\nAssim que na\u00f5 se deve confusamente fazer huma indiscreta illuza\u00f5, e\nuniveral zombaria dos Medicos; porque hum, ou outro errou porem a\nmalevolencia do A. na\u00f5 quer mais, que criminallos, e descompollos, seja\ncomo for. Na\u00f5 p\u00f3de chegar a mais o seu odio, do que a fazer-lhes\ncalumnias, e crimes de huma galantaria, que disse hum sugeito. Fallo\nnaquelle conto, que traz a paginas 15. de hum homem, a quem elle chama\ndiscreto, que attribuio a morte repentina de hum amigo a ter visto em\nsonhos hum Medico mao, que havia no seu tempo. Isto, que se na\u00f5 foi\nmaterialidade, foi gra\u00e7a daquelle sugeito, toma elle com verdade, e\nantecedente certo, para o seu argumento: e passa a dizer, e a exclamar,\nque fora\u00f5 na realidade, quando s\u00f3 a imagem na fantazia produzio hum\nhum tal effeito, se hum s\u00f3 visto em sonhos matou hum homem! Est\u00e1 muito\nbom argumento mas se lhe negarem o supposto, logo ficar\u00e1 calado.\nPara vomitar contra os Medicos o veneno da sua malevolencia, at\u00e9 comessa\na sua jocosidade indiscreta a illudilos por andarem a cavallo: e como os\nfaz inimigos mortaes do genero humano, diz, que anda\u00f5 assim, como mais\nexpeditos para o exercicio da mortandade, porque sempre a cavalaria fez\nmais estrago, que a infantaria (veja como sa\u00f5 insulsas estas gra\u00e7as) e\nl\u00e1 vai a sua erudi\u00e7a\u00f5 exquesita achar para prova hum texto de S. Joa\u00f5,\nque vio a morte a cavallo. Est\u00e1 bem trazido! Gasta mais de huma pagina\nem ponderar, como condemna\u00f5 \u00e1 morte os Juizes, e os Medicos; pois\naquelles o fazem com multiplicidade de votos, elles s\u00f3 pela sua\nsenten\u00e7a. Bella compara\u00e7a\u00f5? de sorte que o Juiz da pozitivamente a morte\nem justa pena do delito; o Medico quer intencionalmente dar a vida; mas\nou porque errou, ou Deos assim o quiz, morreo o doente: logo (infere o\nA.) condemnou o Medico a morte ao enfermo, assim como o Juiz ao\ndeliquente; s\u00f3 com a differen\u00e7a, que o Juiz com o voto de muitos, o\nMedico pela sua vontade. Notal filosofia, bem tirada conclusa\u00f5!\nMas he muito para rir hum idea, que elle confessa ser tirada das suas\nexperiencias, e logo se v\u00ea que he sua. Aconselha as Potencias\nbelligerantes (he palavrinha sua) que introduza\u00f5 nos exercitos oppostos\nhum pequeno pelota\u00f5 de Medicos; porque elle sem duvida faria\u00f5 em 8. dias\nmais destrosso, do que o exercito podia experimentar em 6. mezes de\ncampanha. A inven\u00e7a\u00f5 est\u00e1 exquezita. Assim ficava\u00f5 as guerras mais\nsuaves, e na\u00f5 experimentaria\u00f5 nellas os reinos ta\u00f5 funestos, e\nirreparaveis estragos. Escusava\u00f5 os miseraveis soldados de expor o peito\n\u00e1 bala, e dezemparar as familias, perderem-se as cazas, devassarem-se as\ncidades, profanarem-se os templos, estragarem-se as riquezas, e poderes,\ne sucederem todas aquellas calamidades, que causa o furor de huma\nsanguinolenta guerra. Em boa paz se fazia tudo: hia\u00f5 os Medicos,\nCirurgioens, e Boticarios matando descan\u00e7adamente de seu vagar, ou para\nmelhor dizer, muito depressa, porque fazia\u00f5 em 8 dias, o que os\nexercitos em 6 mezes, e em breve tempo se declarava feliz, e suavemente\na victoria. A muito chega o discur\u00e7o humano! E ainda se na\u00f5 tinha\ndado nisto! Eu era de parecer, que esta carta se mandasse a essas\nna\u00e7oens, que actualmente anda\u00f5 belligerando (deixeme aproveitar desta\npalavra do A.) aver se sortia bom effeito a id\u00e9a. Mas era percizo, que o\nenigmatico Joz\u00e9 Acursio desse tambem o modo, com que se havia fazer que\na doecesse o exercito opposto; porque estando todos s\u00e3os, pareceme que\nna\u00f5 pode ter effeito; pois quando muito s\u00f3 se lhe podia dar a morte nos\nremedios, que se lhe receitassem para a saude. Deve tambem declarar, se\nhe da essencia, que os ferros dos Cirurgioens seja\u00f5 ferrugentos pois\nelles diz assim: Os Cirurgioens armados com os seos estojos, e patronas\ncom 4 lancetas, e huns poucos de ferros ferrugentos. Eu nunca vi que os\nCirurgi\u00f5es troxesem os ferros ferros ferrugentos antes bem limpos, e\namolados: e assim, se isso he condi\u00e7a\u00f5 necessaria, declare-o; na\u00f5 se\nfrustre a idea por falta desse requezito. O certo he que a paixa\u00f5 cega\naos homens; e na\u00f5 he muito que fallem delirios quando fala\u00f5 apaixonados.\nAssim na\u00f5 me admiro, que elle homem, que sempre venero douto, querendo\nilludir jocoseriamente aos Medicos cahise em tantas inepcias, e\njocosidades insipidas, quando se est\u00e1 vendo a sua malevolencia, e\nodio e odio; pois at\u00e9 os calumnias de ganharem, com que se sustentem;\nadmirandose, de que o tempo se converta para elles em dinheiro. Bem\ndisse eu, que a paixa\u00f5 cega aos homens; pois na\u00f5 ve este discreto, que\nisso na\u00f5 he s\u00f3 para os Medicos. Todos trabalha\u00f5 pela vida; todos cuida\u00f5\nem ganhar o necessario, e ainda o superfluo, e para todos se converte o\ntempo em dinheiro, quando recebem o lucro do seu trabalho. Diga-o elle\nmesmo confesse para que comp\u00f4z aquella carta, e a mandou imprimir? Para\nganhar dinheiro: em dinheiro se lhe converteo o tempo, em que a trabalhou.\nEu na\u00f5 sey, que lhe fizera\u00f5 os Medicos, Cirurgioens, e Boticarios; pois\npublica contra elles ta\u00f5 cruel guerra. S\u00f3 louva aquelle, que curou hum\nhomem \u00e1s palmatoadas: eu na\u00f5 sei, que gra\u00e7a elle achou na cura. Ella\ncertamente d\u00e1 vontade de rir, e elle mesmo o confessa. Palmatoadas he\nremedio, que se na\u00f5 acha na botica. Verdade he que se applica nas\nescolas, e estudos aos rapazes, e faz bom effeito; mas he medicina para\na pregui\u00e7a: para outros doen\u00e7as na\u00f5 me consta. As palmatoadas\ninventara\u00f5-se para castigo eu na\u00f5 sey que adoecer seja crime. Mas repare\nV. m. na habilidade, que aquelle Cirurgia\u00f5 tinha para guarda do\nCollegio, e certamente que era mais bem empregado nesta occupa\u00e7a\u00f5, e\nficaria aperder de vista Manoel Mendes, na\u00f5 obstante ser ta\u00f5 insigne\nofficial de palmatoadas, de que escapara\u00f5 os pobres estudantes, quando\nas groseiras m\u00e3os de hum alfayate suara\u00f5 imposibilitadas de trabalhar\nainda depois de sa\u00f5. O A. na\u00f5 se farta de lhe louvar o bom raciocinio, e\nbom discurso; mas eu ainda lhe acho hum defeito, que vem a ser na\u00f5 lhe\ndar a\u00e7outes em lugar de palmatoadas; pois escusava de lhe cauzar o\nprejuizo de perder ao outro dia o seu jornal, e talvez fizessem melhor\neffeito; pois havia\u00f5 mais facilmente puxar o mal abaixo. Julgo que o A.\ntomara para si elle Cirurgia\u00f5; ainda que isto, como he mezinha cazeira,\nna\u00f5 necessita, que lha venha\u00f5 applicar de f\u00f3ra. Quem lhe agradar\nencomende aos seos domesticos, que quando lhe vier alguma doen\u00e7a, lhe\ndescarreguem humas poucas de palmatoadas, ou a\u00e7outes (cada hum do que\nmais gostar) e em quanto na\u00f5 sarar, lhe va\u00f5 dando rijo, a ver se fazem\nfugir o mal \u00e1s pancadas. E para que na\u00f5 pare\u00e7a que fa\u00e7o zombaria do\nremedio, eu quero tambem contar o meu cazo a imita\u00e7a\u00f5 do A. da carta.\nCerto rapaz se fazia maliciozamente cocho, e tendo noticia o mestre do\nfingimento lhe dava meya duzia de palmatoadas: sarou repentinamente\no rapaz, e come\u00e7ou a andar muito direito. Logo com estas duas\nexperiencias, se confirma a bondade do dito remedio.\nA fallar a verdade, meu amigo, eu na\u00f5 me persuado, que este escriptor\ndissese em seu serio, e porque assim o entendese, todas as couzas, que\nneste papel escreve: com tudo na\u00f5 deixa de me cauzar escrupulo, e horror\no que pertende persuadir ao povo; pois toda esta carta he dirigida a\nmeter lhe sustos, para que na\u00f5 se curem com os Medicos, nem Cirurgioens.\nAssim o diz o titulo: _Sustos da vida nos Perigos da cura_; e todo o seu\nempenho he intoduzir nas gentes hum medo, pavor, e susto dos mesmos\nMedicos. Elle entra a exclamar, quem se hade metter sem sustos nas m\u00e3os\nde hum Medico? Quem na\u00f5 ter\u00e1 sustos de ver a sua cabeceira hum homem, de\nquem depende \u00e1 sua vida. Quem deixar\u00e1 de estar a cada hora esperando que\nlhe cortem os fios da vida? Elle faz a Medecina chea de enganos diz que\nhe hum engano introduzido, que se na\u00f5 deve chamar bem, que melhor\nutilidade se consegueria sem ella. Elle diz que ser\u00e1 mil vezes melhor na\nprezen\u00e7a de alguma queixa viver antes com ella, do que entregar-se nas\nm\u00e3os de qualquer Medico; que he muito melhor viver sujeito ao\ndiscommodo de huma saude arruinada; do que pertenderse curar-se; que o\nestudo destes professores s\u00f3 he pelos vivos, a quem tira\u00f5 a vida,\nenganando o povo nescio com alguns afforismos, que de memoria repetem.\nElle quer introduzir ao vulgo, que os Medicos sa\u00f5 coadjutores da morte,\nque o seu officio he matar; que sentencea\u00f5 aos homens camerariamente \u00e1\nmorte; que sa\u00f5 hum contagio, cujo damno se pode experimentar nos lugares\nmais sadios; que he milagre estarmos vivos entre elles; que s\u00f3 vistos em\nsonhos mata\u00f5; que fazem mais estragos em 8 dias, do que hum exercito\narmado em 6 mezes, andando para isso a cavallo para assim mais expeditos\ndespojarem das vidas aos homens: e outras couzas similhantes; sendo\ntodas estas tiradas fielmente da sua carta, quasi pelas mesmas palavras.\nFinalmente elle persuade ao leitor, que as juntas sa\u00f5 superfluas, e os\nchamar Medicos se reserve s\u00f3 para a ultima enfermidade, e ainda isso\npara morrer a moda, ou que s\u00f3 o fa\u00e7a quem se enfastiar de viver, e\nquizer matarse por modo, que fica salva a sua consciencia.\nNeste passo na\u00f5 posso deixar de me impacientar, nem haver\u00e1 cora\u00e7a\u00f5\ncatolico, e pio, que que se na\u00f5 escandalize com propozi\u00e7oens ta\u00f5\nabsurdas. Matar-se por modo que fique salva, a consciencia! Ha quem tal\ndiga! Isto na\u00f5 pode ser; repugna direitamente aos dogmas da Religia\u00f5\nCatholica. A morte propria na\u00f5 he, nem pode ser licita: e o vulgo\nignorante, vendo isto, pode persuadir-se que sim, quem chamar hum Medico\ncom ten\u00e7a\u00f5 de que elle o mate, ainda que se na\u00f5 sigua a morte, pecca\nmortalmente. Eu sertamente tenho hum grande receio, de que este papel\nenchendo de prejudiciaes preoccupa\u00e7oens o povo, cause fataes, e\nirreparaveis damnos a muitos dos seos leitores. Quantos se privara\u00f5 de\nalgum bom arbitrio, que se houvesse de dar na junta, que sobre a sua\nenfermidade se convocasse; sendo serto que muitas vezes se discorrem\nnestas conferencias opera\u00e7oens de admiraveis effeitos, que na\u00f5 occuria\u00f5\nao Medico assistente. Quantos se deixara\u00f5 morrer \u00e1 falta de remedidos?\nquando lhe tira o A. o escrupulo do peccado; se ainda entendendo todos\nestarmos obrigados a tratar da saude, deixava\u00f5 por negligencia fazer as\ndoen\u00e7as incuraveis, acudindo-lhe quando ja na\u00f5 tinha\u00f5 remedio. (E ao\ndepois se attribuia ao Medico a culpa, que s\u00f3 tinha o doente) Quantos\nhaver\u00e1, que se at\u00e9gora por desencarregar a consciencia chamava\u00f5 os\nMedicos bem a pezar da sua avareza, agora vendo que he gasto superfluo\nmorrera\u00f5 mizeravelmente? Quantos lendo no A. que isto s\u00f3 se faz por\nmoda, na\u00f5 fazendo cazo de modas, guardara\u00f5 o dinheiro para os gastos\nprecizos, e abreviara\u00f5, desgra\u00e7adamente as vidas? Quantos finalmente\ncheos de sustos, receios, temores, e medo dos Medicos, e suas curas,\ndeixando multiplicar, e inveterar as queixas vivera\u00f5 com huma saude\narruinada, e acabara\u00f5 infilizmente com huma morte imtempestiva? He fatal\ndisgra\u00e7a, que o odio particular, seja ta\u00f5 pernicioso ao bem publico! Eu,\nmeu amigo, lhe pe\u00e7o na\u00f5 s\u00f3 pela nossa amizada, mas pelo zelo, e amor de\nDeos, e do Proximo, que em seu peito se anima, empenhe agora toda a sua\nefficacia, em dissuadir destas noticias preocupa\u00e7oens a este miseravel\npovo ensinando-lhe; que temos como catholicos, rigoroza obriga\u00e7a\u00f5 de\nconservar a vida, uzar dos remedios, e do conselho dos Medicos, e de lhe\nobedecer nas couzas uteis para a saude persuadindo-o evidentemente\ncontra a opinia\u00f5 destes curiosos das duzias, que este papel he todo\ncheio de mentiras, embustes, futilidades, e incoherencias.\nTenho exposto a V. m. o meu voto; e na\u00f5 sey, se com molestia sua pela\nexten\u00e7a\u00f5 de que uzei; por\u00e8m os velhos difficultosamente se izenta\u00f5 da\nprolixidade, e ainda eu deixei muitas couzas censuraveis. Mais extensa\nfora esta minha, se eu introduzira huns poucos de textos bem, ou mal\ntrazidos, como faz o nosso Acursio. Por\u00e8m eu estou j\u00e1 muito esquecido\ndestes latinorios; deixemos isto a sua vastida\u00f5, a quem nem escapou o\nexquezito: _Hoc opus hic labor est._ Com tudo por na\u00f5 deixar tambem de\ndizer minha palavrinha latina, que sempre faz muita secia, direi ao\nmenos a da despedida, e assim me despe\u00e7o em latim. Vale.\nF I M", "source_dataset": "gutenberg", "source_dataset_detailed": "gutenberg - Juizo Verdadeiro sobre a carta contra os Medicos, Cirurgioens e Boticarios\n"}, {"created_timestamp": "05-07-1739", "downloaded_timestamp": "10-18-2021", "url": "https://founders.archives.gov/API/docdata/Franklin/01-02-02-0047", "content": "Title: Subscription to Christ Church, 7 May 1739\nFrom: \nTo: \nPhiladelphia, May 7th, 1739\nWhereas, the Episcopal church of Philadelphia, having been long built, and much out of repair, as well as too small for the convenient seating of the congregation, it was therefore resolved, by two several vestries, in the year seventeen hundred twenty-seven, that a sum of money should be raised by subscription, for erecting a new, larger and more commodious building; which good design, with much care and industry hath been carried on, the foundation of a steeple laid, and the body of the new church on the outside almost finished; but the said subscription falling short, and insufficient to complete the same, the inside of the church remains unfinished, and many of the congregation yet unprovided with pews for themselves and families; which makes it necessary that some pews, a gallery, and other conveniences, should yet be added, as well as the whole finished; for which pious and good purpose, we whose names are hereunto subscribed, do promise to pay to the church wardens of the said church, or such others as shall be appointed to receive the same for the use aforesaid, the sums of money by us respectively subscribed. In witness whereof we have hereunto set our names the date above written.", "culture": "English", "source_dataset": "Pile_of_Law", "source_dataset_detailed": "Pile_of_Law_founding_docs", "source_dataset_detailed_explanation": "Letters from U.S. founders.", "creation_year": 1739}, {"created_timestamp": "05-26-1739", "downloaded_timestamp": "10-18-2021", "url": "https://founders.archives.gov/API/docdata/Franklin/01-02-02-0048", "content": "Title: To Benjamin Franklin from Josiah Franklin, 26 May 1739\nFrom: Franklin, Josiah\nTo: Franklin, Benjamin\nLoving Son.\nBoston, May 26, 1739\nAs to the original of our name there is various opinions; some say that it came from a sort of title of which a book, that you bought when here, gives a lively account. Some think we are of a French extract, which was formerly called Franks; some of a free line; a line free from that vassalage which was common to subjects in days of old: some from a bird of long red legs. Your uncle Benjamin made inquiry of one skilled in heraldry, who told him there is two coats of armour, one belonging to the Franklins of the north, and one to the Franklins of the west. However our circumstances have been such as that it hath hardly been worth while to concern ourselves much about these things, any farther than to tickle the fancy a little.\nThe first that I can give account of, is my great grand father, as it was a custom in those days among young men too many times to goe to seek their fortune, and in his travels he went upon liking to a taylor; but he kept such a stingy house, that he left him and travelled farther, and came to a smith\u2019s house, and coming on a fasting day, being in popish times, he did not like there the first day; the next morning the servant was called up at five in the morning, but after a little time came a good toast and good beer, and he found good housekeeping there; he served and learned the trade of a smith.\nIn queen Mary\u2019s days, either his wife, or my grandmother, by father\u2019s side, informed my father that they kept their bible fastened under the top of a joint-stool that they might turn up the book and read in the bible, that when any body came to the dore they turned up the stool for fear of the aparitor, for if it was discovered, they would be in hazard of their lives. My grandfather was a smith also, and settled at Eton [sic] in Northamptonshire, and he was imprisoned a year and a day on suspicion of his being the author of some poetry that touched the character of some great man. He had only one son and one daughter; my grandfather\u2019s name was Henry, my father\u2019s name was Thomas, my mother\u2019s name was Jane. My father was born at Ecton or Eton, Northamptonshire, on the 18th of October, 1598; married to Miss Jane White, niece to Coll. White, of Banbury, and died in the 84th year of his age. There was nine children of us who were happy in our parents, who took great care by their instructions and pious example to breed us up in a religious way. My eldest brother had but one child, which was married to one Mr. Fisher, at Wallingborough, in Northamptonshire. The town was lately burnt down, and whether she was a sufferer or not I cannot tell, or whether she be living or not. Her father dyed worth fifteen hundred pounds, but what her circumstances are now I know not. She hath no child. If you by the freedom of your office, makes it more likely to convey a letter to her, it would be acceptable to me. There is also children of brother John and sister Morris, but I hear nothing from them, and they write not to me, so that I know not where to find them. I have been again to about seeing .\u00a0.\u00a0.\u00a0.\u00a0.\u00a0.\u00a0.\u00a0.\u00a0. but have mist of being informed. We received yours, and are glad to hear poor Jammy is recovered so well. Son John received the letter, but is so busy just now that he cannot write you an answer, but will do the best he can.\nNow with hearty love to, and prayer for you all, I rest your affectionate father\nJosiah Franklin", "culture": "English", "source_dataset": "Pile_of_Law", "source_dataset_detailed": "Pile_of_Law_founding_docs", "source_dataset_detailed_explanation": "Letters from U.S. founders.", "creation_year": 1739}, {"created_timestamp": "07-29-1739", "downloaded_timestamp": "10-18-2021", "url": "https://founders.archives.gov/API/docdata/Franklin/01-02-02-0050", "content": "Title: To Benjamin Franklin from Simon Meredith, 29 July 1739\nFrom: Meredith, Simon\nTo: Franklin, Benjamin\nSir\nPlease to let my Son Hugh Meredith have the Sum of Eight pounds and place the Same to the Account of your Real Friend And very Humble Servant\nSimon Meredith\nTo Mr. Benjamin Franklin Postmaster in Philadelphia\n[Receipted:] Receiv\u2019d the above Eight Pounds per meJuly 30. 1739\nHugh Meredith\n[Receipted:] Borrowed and receiv\u2019d also of Benjamin Franklin Six pounds more per me\u00a36. \u2014. \u2014\n Hugh Meredith", "culture": "English", "source_dataset": "Pile_of_Law", "source_dataset_detailed": "Pile_of_Law_founding_docs", "source_dataset_detailed_explanation": "Letters from U.S. founders.", "creation_year": 1739}, {"created_timestamp": "10-12-1739", "downloaded_timestamp": "10-18-2021", "url": "https://founders.archives.gov/API/docdata/Franklin/01-02-02-0051", "content": "Title: To Benjamin Franklin from Alexander Spotswood, 12 October 1739\nFrom: Spotswood, Alexander\nTo: Franklin, Benjamin\nSir,\nGermanna, Octob. 12. 1739\nThe Part which your Predecessor, Mr. Andrew Bradford, has acted with respect to the Post-Office Accompts, is no longer to be born with. The Deputy Post-Masters in Great-Britain account every two Months with the General Post-Office there; and I am obliged every half Year to have the Accounts of the General Post-Office in America made up: But I have not been able to obtain any Account from Mr. Bradford of the Philadelphia Office, from Mid-summer 1734, notwithstanding all the pressing Demands that the Comptroller has been continually making upon him for so many Years past. Wherefore I now peremptorily direct, that, upon receipt hereof, you commence Suit against him, without hearkning any more to his trifling Excuses and fallacious Promises. If he lays any Stress on the Reputation of a Man of Truth and Sincerity, he must blush upon a Trial, before his Towns-Men, to have his Letters produced, continually pleading Sickness, for his not sending his Accompts: Whereas, upon Enquiry, I am well assured, that, for these two Years past, he has appeared abroad in as good State of Health, as ever he used to be. Such an Imposition I think ought not to be passed over, without some Mark of my Resentment; and therefore I now direct, that you no longer suffer to be carried by the Post any of his News-Papers, or Letters directed to him, without his paying\n *The Privilege of Free-Postage was allow\u2019d Mr. Bradford, on Condition of his acquitting himself fairly of the Office, and doing Justice to the Revenue. [Franklin\u2019s footnote.]\n the Postage thereof: Which you are to observe, until farther Orders in that Behalf, from, Sir, Your most humble Servant,\nTo Mr. Franklin\nA. Spotswood", "culture": "English", "source_dataset": "Pile_of_Law", "source_dataset_detailed": "Pile_of_Law_founding_docs", "source_dataset_detailed_explanation": "Letters from U.S. founders.", "creation_year": 1739}, {"created_timestamp": "01-04-1739", "downloaded_timestamp": "10-18-2021", "url": "https://founders.archives.gov/API/docdata/Franklin/01-02-02-0052", "content": "Title: Extracts from the Gazette, 1739\nFrom: Franklin, Benjamin\nTo: \n\t [Advertisement] Benjamin Franklin, Printer, is removed from the House he lately dwelt in, four Doors nearer the River, on the same side of the Street. [January 11]\n\t We hear from the Head of Timber-Creek in the Jerseys, That a Woman there has lately had Five Children, all born alive, within the space of 11 Months, by two Husbands. [January 25]\n\t [Advertisement] The French Tongue Compleatly Taught, in the most easy and expeditious Manner; by a Person who has for many Years past taught the same with great Success both in the West-Indies, and in London. He may be spoke with every Day at the Post-Office; and waits on Gentlemen and Ladies at their respective Houses, at convenient Hours. [February 15]\n[Advertisement] Stolen on the 15th Instant, by one William Lloyd, out of the House of Benj. Franklin, an half-worn Sagathee Coat lin\u2019d with Silk, four fine homespun Shirts, a fine Holland Shirt ruffled at the Hands and Bosom, a pair of black broadcloth Breeches new seated and lined with Leather, two pair of good worsted Stockings, one of a dark colour, and the other a lightish blue, a coarse Cambrick Handkerchief, mark\u2019d with an F in red Silk, a new pair of Calf skin Shoes, a Boy\u2019s new Castor Hat, and sundry other Things.\nN.B. The said Lloyd pretends to understand Latin and Greek, and has been a School-Master; He is an Irishman, about 30 Years of Age, tall and slim: Had on a lightish colour\u2019d Great Coat, red Jacket, a pair of black silk Breeches, an old felt Hat too little for him, and sewed on the side of the Crown with white Thread, and an old dark colour\u2019d Wig: but may perhaps wear some of the stolen Cloaths above mentioned.\n Whoever secures the said Thief so that he may be brought to Justice, shall have Thirty Shillings Reward and reasonable Charges, paid by\n B. Franklin\n\t [February 22]\n\t We hear that Tuesday Night last, a young Dutchman was married to an old Dutchwoman, who was known to have Money. They had a Fiddle at the Wedding, and when the Bride was about to Dance, the Bridegroom told her he was oblig\u2019d to go out a little Way and would return in a short Time. She danc\u2019d \u2019till it was late, and then he not appearing, she went to look for him in the Bed-Chamber; where she found to her great Surprize that he had been and taken away her Money, and he has not since been heard of. [March 22]\n\t We hear from Pensoken, that on the first Inst. one John Collis, being reproach\u2019d by his Acquaintance for suing a Debtor who was unable to pay him, was so stung with Remorse, that he went voluntarily into the River and drowned himself, in about two or three foot Depth of Water. [April 12]\n\t [Advertisement] Great Variety of Maps and Prints Sold by B. Franklin. [April 19]\n\t [Advertisement] Canary Wine, sweet Oyl, and Lime-juice by the Gallon or lesser quantity, to be Sold by Hugh Roberts, in Second-Street, Philadelphia. Also fine Salt by wholesale or retail. [May 10]\n\t Yesterday one James Johnson, met a Man riding into Town, who (in Company with another Man, not yet taken) robb\u2019d him in his Journey from North-Carolina to this Place of upwards of Three Hundred Pounds, Carolina Money, and a Note for Fifty Pounds Sterling; and laid hold of him: The Highwayman beg\u2019d not to be expos\u2019d, and pretended he had marry\u2019d a rich Widow in Town, and would immediately refund the Money, if the other would go with him to his House; on this Pretence he led him to the outside of the Town, then leap\u2019d on his Horse and made his Escape down to the Lower-Ferry, but finding himself closely pursued, and the Boat not ready to go over, he made into the Neck, where he was taken some Hours after; and after an Examination before a Magistrate, committed to Prison. [May 31]\n\t We are assur\u2019d that the Man now in Prison in this City for a Robbery committed in Carolina, is the same, who under various Names has been guilty of a great Number of Cheats and Rogueries in this and the neighbouring Provinces for several Years past. [June 14]\n\t [Advertisement] Lost on Monday last, somewhere in this City, the Sheath of an Hanger, with a Silver Tip and Hook, and a Knife and Fork with Buck-Horn Handles, fix\u2019d near the Top of it. Whoever brings it to the Post-Office, shall be handsomely rewarded. [June 14]\n\t [Advertisement] Lately found a Pocket Book, with a Bond and other Papers in it; the Owner applying to the Printer hereof, and paying the Charge of this Advertisement, may hear of it again. [June 21]\n[Advertisement] Intending with the Leave of my Master, to collect and print the poetical Writings of my deceas\u2019d Father Aquila Rose, I desire all Persons who are possess\u2019d of any of those Pieces in Manuscript, to bring or send them to me at the New-Printing-Office in Market-Street; and I promise to give, in Return for each Manuscript, one of the Printed Collections, assoon as they shall be finished.\nJoseph Rose\n\t[June 28]\n\t On the 30th of May past, the Children, Grand-Children and Great-Grand-Children of Richard Buffington, senior, to the Number of One Hundred and Fifteen, met together at his House in Chester County, as also his Nine Sons- and Daughters-in-law, and Twelve Great-Grand-Children-in-law. The old Man is from Great Marle upon the Thames, in Buckinghamshire in Old-England, aged about 85, and is still hearty, active, and of perfect Memory. His eldest Son, now in the Sixtieth Year of his Age, was the first born of English Descent in this Province. [July 5]\nMr. Franklin,\nThe following is a Paragraph contain\u2019d in a Letter I received lately from my Brother Thomas Bond, in Paris, dated Feb. 20. 1738, 9: As I think it will in no small Measure confirm the Character of the Seneca Snake-Root, set forth by Dr. Tennent, common Justice to that Gentleman obliges me to make it known to the Publick.\nPhineas Bond\n\t \u201cThe Seneca Snake-Root, was sent from Virginia to Mr. Jussieu, Physician and Professor of Botany to the King, with a Recommendation and the Method of Use in a Pleurisy, and has been frequently tried by him and many others in that Disorder with surprizing Success, and is in great Esteem: He is a Man of Great Reputation and Learning, and told me this himself.\u201d [July 26]\n\t [Advertisement] A few Days past was lost, a Magnifying Glass set in a Cup of Wood about the Bigness of a Taylor\u2019s Thimble. The Finder shall be well rewarded upon bringing or sending it to the Printer. [August 2]\nThis Gazette Numb. 564 begins the 11th Year since its first Publication; And whereas some Persons have taken it from the Beginning, and others for 7 or 8 Years, without paying me one Farthing, I do hereby give Notice to all who are upwards of one Year in Arrear, that if they do not make speedy Payment, I shall discontinue the Papers to them, and take some proper Method of Recovering my Money.\nB. Franklin\n\tN.B. No new Subscriber will be taken in for the future without Payment for the first half Year advanc\u2019d. [October 4]\n\t We hear from Macunja in Bucks County, that last Week two Brothers, the youngest about 10 Years of Age, and the eldest about 18, both of them deaf and dumb, went out into the Woods together, where the eldest cut the Throat of the youngest. [October 18]\n\t Last Week the Rev. Mr. Whitefield landed from London at Lewes-Town in Sussex County, where he preach\u2019d; and arrived in this City on Friday Night; on Sunday, and every Day since he has preach\u2019d in the Church: And on Monday he designs (God willing) to set out for New-York, and return hither the Week after, and then proceed by Land thro\u2019 Maryland, Virginia and Carolina to Georgia. [November 8]\n[Advertisement] To Be Sold, At the House of the Rev. Mr. Whitefield, In Second-Street (the same in which Capt. Blair, lately dwelt) the following Goods: Being the Benefactions of Charitable People In England, towards Building an Orphan-House In Georgia:\nBrass Candlesticks, Snuffers and snuff-Dishes, four, six, eight, ten and twenty-penny Nails, Pidgeon, Duck and Goose Shot, bar Lead, Pistol Powder in quarter and half Barrels, English Duck Numb. 1, 2, 3, and 4, English Cordage, Ratling, Worming, Marline and Spun-yarn, Ruggs and Blankets, Duffills strip\u2019d, Drills for Bed-sacking, seven eighths and three quarter Garlix, white Roles, white Hessins, Russia Hempen Ditto; narrow Lawns, Scotch Cloth, cotton Romalls, Seirsuckers, white Dimities, Carradaries, Cherconees, long Romalls, colour\u2019d Ginghams with Trimings, Gorgoroons black, black Persian Taffities, strip\u2019d Linseys, Swanskin Bays, broad Cloth, Shalloons, long Ells, Buttons, Buckrams, and sewing-Silk. [November 8]\n\t On Thursday last, the Rev. Mr. Whitefield began to preach from the Court-House-Gallery in this City, about six at Night, to near 6000 People before him in the Street, who stood in an awful Silence to hear him; and this continued every Night, \u2019till Sunday. On Monday he set out for New-York, and was to preach at Burlington in his Way going, and in Bucks County coming back. Before he returns to England he designs (God willing) to preach the Gospel in every Province in America, belonging to the English. On Monday the 26th he intends to set out for Annapolis. [November 15]\nThe Rev. Mr. Whitefield having given me Copies of his Journals and Sermons, with Leave to print the same; I propose to publish them with all Expedition, if I find sufficient Encouragement. The Sermons will make two Volumes in twelves, on the same Character with this Advertisement, and the Journals two more, which shall be delivered to Subscribers at 2s. each Volume bound. Those therefore who are enclined to encourage this Work, are desired speedily to send in their Names to me, that I may take Measures accordingly.\nB. Franklin\n[November 15]\n\tOn Friday last the Rev. Mr. Whitefield, arrived here, with his Friends from New-York, where he preach\u2019d eight Times; and on his Return hither preach\u2019d at Elizabeth-Town, Brunswick, Maidenhead, Trenton, Neshaminy and Abingdon. He has preach\u2019d twice every Day in the Church to great Crowds, except Tuesday, when he preach\u2019d at German-Town, from a Balcony to about 5000 People in the Street: And last Night the Crowd was so great to hear his farewel Sermon, that the Church could not contain one half, whereupon they withdrew to Society-Hill, where he preach\u2019d from a Balcony to a Multitude, computed at not less than 10,000 People. He left this City to day, and is to preach at Chester; to morrow at Willings-Town, Saturday at New-Castle, Sunday at Whiteclay-Creek, and so proceed on his Way to Georgia, thro\u2019 Maryland, Virginia and Carolina. [November 29]\n\tOn Thursday last the Rev. Mr. Whitefield, left this City, and was accompany\u2019d to Chester by about 150 Horse, and preach\u2019d there to about 7000 People; on Friday he preach\u2019d twice at Willings-Town to about 5000; on Saturday at New-Castle to about 2500, and the same Evening at Christian-Bridge to about 3000; on Sunday at Whiteclay-Creek he preach\u2019d twice, resting about half an Hour between the Sermons, to about 8000, of whom about 3000 \u2019tis computed came on Horse-back. It rain\u2019d most of the Time and yet they stood in the open Air: On Monday he was to preach at North-East, and then proceed directly for Annapolis. [December 6]\nJust Publish\u2019d, Poor Richard\u2019s Almanacks, for the Year 1740. Containing besides the usual Matters, many pleasant Verses, merry Jokes and wise Sayings, with a Letter to the Author from Titan Leeds, deceas\u2019d; also Dr. Tennent\u2019s infallible Method of Cure in the Pleurisy by the Seneka Rattle-Snake Root.\nNote. As the Plant is very plainly described, and may be found in Pensilvania, the Jerseys, New-York, &c. and as the Method of using it is particularly laid down, it is not doubted but this Almanack may be a Means of saving the Lives of Thousands. Sold by B. Franklin at the New Printing-Office, Market street. Price 3s. 6d. per Dozen, or 5d. Single. [December 6]\n\t Thursday last died, Mrs. Dorcas Bradford, Wife of Mr. Andrew Bradford, Printer; and on Saturday Evening was decently interred. Her Death is much lamented by all that knew her. [December 27]\nPhiladelphia: Printed by B. Franklin, Post-Master, at the New Printing-Office near the Market. Price 10s. a Year. Where Advertisements are taken in, and Book-Binding is done reasonably, in the best Manner.", "culture": "English", "source_dataset": "Pile_of_Law", "source_dataset_detailed": "Pile_of_Law_founding_docs", "source_dataset_detailed_explanation": "Letters from U.S. founders.", "creation_year": 1739} ]